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Pão-por-Deus: dia ideal para os peditórios

 

          Os tempos não vão de feição para o cidadão comum.
          Os recentes desenvolvimentos da situação económica e financeira  antevêem períodos conturbados que se traduzem no acirrar de ânimos entre os adversários políticos, utilizando discursos verrinosos, pouco construtivos e eivados de arrogância e sobranceria. É o tocar a reunir para desinstalar o poder, a todo o custo, e o tocar a reunir as hostes na convicção de que o “nosso” tempo está a chegar e a mudança para melhor vem aí.
É sempre este o cenário, em tempos de crise.
Afasto-me desse alarido ensurdecedor que não esclarece ninguém, antes afasta o cidadão pacato e sério dos agentes desse espectáculo cada vez mais descredibilizado.

          Do ciclo da vida, faz parte o dia de Todos os Santos, a que se associou a memória dos nossos defuntos, por se ter acabado com as três missas consecutivas que se celebrava no dia 2 de Novembro.
Retenho da minha infância o Pão-por-Deus.
Tradição secular destas ilhas, em vias desaparecer, constituía uma forma de, no  termo das colheitas, partilhar por quem carecia, bens de primeira necessidade  como milho, batata e outros produtos da terra.
A recente celebração do Dia das Bruxas ou Halloween, promovida pelas escolas no âmbito da disciplina de Inglês, deu cabo de um costume de sentido humanista que, nos tempos que correm, faz muito sentido.
          Tem todo o cabimento que instituições dedicadas à ajuda aos mais desfavorecidos repensem os diversos peditórios que efectuam ao longo do ano e concentrem as suas boas vontades no Dia do Pão-por-Deus, já que a própria mensagem religiosa a isso ajuda.
          Da repartição dos bens colhidos da terra, constavam também as castanhas, que outrora faziam parte importante da alimentação humana. Por isso é que os proprietários das quintas de frutos reservavam espaço para os frondosos e, por vezes, centenários castanheiros. Colhiam os frutos e beneficiavam da qualidade da madeira das árvores, de grande reputação e procura junto dos marceneiros e carpinteiros que com ela construíam não só mobiliário doméstico mas também vasilhame para o vinho.
Como tudo, também os castanheiros foram atingidos por doenças como o cancro e a tinta.
          Nas últimas três décadas, a população de castanheiros em Portugal ficou reduzida a menos de metade o que afectou a exportação, nomeadamente  para o Brasil. Mas os apoios da União Europeia aos agricultores inverteram a situação e, presentemente, em Trás-os-Montes, com mais de 80% da produção nacional de castanhas, tem havido um movimento muito importante para o crescimento desta cultura, em parceria com a Universidade. Por outro lado, as autarquias e o empresariado ligado à restauração realizam, anualmente, e com sucesso, feiras gastronómicas para reintroduzir e promover o consumo da castanha na dieta alimentar.
Nos Açores, os dados oficiais publicados pelo Serviço Regional de Estatística referem-se apenas aos anos entre 2004 e 2007.
Em 2004, a área da cultura permanente de castanheiros era de 108 ha e a produção atingiu as 95 toneladas de castanhas.
          Em 2007, a produção aumentou para 281 toneladas, se bem que a área cultivada tenha baixado para 97 ha. Daí para cá, não há dados publicados. Tenho, no entanto a impressão de que o aumento da superfície agrícola utilizada (SAU) nas pastagens e o estado de abandono de pequenas quintas de fruta, devido ao envelhecimento da população rural, deram a machadada final num património de grandes tradições e interesse na paisagem rural açoriana.
          Seria importante que, num momento de viragem da economia mundial, se repensasse na reintrodução de culturas agrícolas que fizeram parte do nosso património colectivo, onde os castanheiros como produtores de frutos e de madeira têm também o seu lugar.

 

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